O Congresso da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo [CONABEA]  tem como objetivo compartilhar e refletir sobre os resultados de pesquisas e experiências relativas à educação dos arquitetos e urbanistas, de forma a contribuir para o avanço do conhecimento nesse campo. A qualidade do ensino e formação dos futuros arquitetos e urbanistas depende essencialmente do que nossa área puder construir e propor coletivamente, para disseminar as boas práticas pedagógicas e contribuir nas decisões dos organismos governamentais, como MEC, INEP, CNE, atuando nacionalmente em nome da excelência acadêmica.

O Ensino de Arquitetura e Urbanismo, no Brasil, tem atravessado transformações importantes, não só pelo aumento da diversidade no perfil dos alunos, graças às políticas afirmativas, mas, também, pela inclusão de agendas abrangentes e transversais como, por exemplo, a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [ODS] pactuados pela ONU; as políticas públicas que visam garantir a acessibilidade para todos por meio do desenho universal; a qualidade do meio ambiente etc. No entanto, as práticas presenciais e as condições de ensino, como um todo, foram colocadas em xeque a partir do início de 2020, no contexto da pandemia da COVID-19 e no período pós-pandemia. Desde então, vimos assistindo à aceleração da adoção do ensino remoto, síncrono, on-line. O distanciamento socioespacial, a falta de convívio e a ausência de trocas que ocorreram nos espaços de ensino e aprendizagem atingiram e continuam impactando a vida dos professores, dos estudantes, os trabalhos acadêmicos e a educação dos futuros arquitetos e urbanistas.

Nesse cenário desafiador, agravado pela crise econômica, pela precarização das relações de trabalho e pela instabilidade e redução dos quadros docentes do ensino superior, a ABEA acredita que é necessário o estabelecimento de um amplo debate com vistas a novas e futuras perspectivas e estratégias para o ensino, a formação e a produção de Arquitetura e Urbanismo no Brasil. Um debate interdisciplinar reunindo pesquisas, estudos e experiências, e amparado pela reflexão crítica sobre: a imprescindibilidade da construção democrática do ensino em Arquitetura e Urbanismo de forma a garantir a plena inclusão social, a equidade de gênero; a vivência e a experimentação da materialidade intrínseca à Arquitetura e ao Urbanismo; a necessária experiência presencial e os processos cognitivos do ensino e aprendizagem.

Mudanças no ensino superior do país nos últimos anos têm impactado de forma significativa na formação do arquiteto e urbanista no Brasil e ampliado a responsabilidade dos cursos diante dos novos desafios. Políticas de incentivo à interiorização das Instituições de Ensino Superior, ao aumento no número de vagas na graduação, à implementação das políticas afirmativas, estão diretamente relacionadas à democratização do ingresso dos futuros arquitetos e urbanistas nos cursos superiores. Dessa forma, a comunidade acadêmica passou a ser constituída por uma maior diversidade cultural, social e econômica exigindo o desenvolvimento de políticas de apoio e acompanhamento com ações que ultrapassam a simples disponibilidade de vagas. Enfrentamos desafios sociais, ambientais e econômicos locais, além de crises globais relacionadas ao clima, desigualdade social, pandemias e guerras. Nesse contexto, num país com tantas diferenças, características regionais próprias, riquezas e fragilidades, surgem questões relacionadas à prática do ensino que promova a integração, a ambientação social e acadêmica, a permanência diante da diversidade de experiências de cada estudante para que todos prosperem em seu percurso, desenvolvam competências adequadas, independentemente de sua identidade ou origem e compreendam a relevância do arquiteto e urbanista em sua atuação na sociedade.

Os desafios globais obrigam pensar a arquitetura e o urbanismo dentro de um contexto social e político mais amplo, a organizar a estrutura curricular que contemple a aprendizagem inclusiva e integrada, com estímulo ao senso crítico e reflexivo, numa perspectiva mais ampla e que considere as diferenças socioeconômicas e geográficas onde o arquiteto e urbanista é responsável pela qualidade do espaço público, da paisagem e dos edifícios propostos. Ambientes onde diferentes pessoas, formas de ser, pensar e fazer arquitetura e urbanismo, convivem e avançam na reflexão a respeito da justiça social e ambiental, permitem que as escolas ampliem o processo crítico de investigação, ensino e aprendizagem considerando e refletindo os anseios e necessidades da sociedade e incorporando princípios democráticos em seu ensino.

Ao comemorar seus 50 anos de existência, a ABEA optou por dar maior foco ao XXII CONABEA e realizar o XXXIX ENSEA em 2024, com o mesmo tema central “Construindo a Educação Democrática em Arquitetura e Urbanismo”. Por esta razão, junto ao CONABEA será realizada uma reunião preparatória onde serão definidos comissão científica, comissão organizadora, plataforma e local do evento.

A ABEA protocolou em 2022 junto ao MEC a proposta de mudança das Diretrizes Curriculares Nacionais [DCN] em Arquitetura e Urbanismo, após anos de seu protagonismo na articulação da pauta fundamental à educação e em composição com as entidades profissionais que compõem o CEAU/BR e os CEAU/UF. A partir dessa ação, foram realizadas reuniões com Conselheiros do CNE, com a expectativa de consequências capazes de produzirem efeitos positivos na contemporaneidade do ensino e aprendizagem, dando resposta às discussões que tomaram forma nos ENSEA/CONABEA de 2019 e 2022.

Este Congresso propõe a discussão do ensino e o compartilhamento de experiências que tornam o ensino em arquitetura e urbanismo mais democrático considerando o desenvolvimento de ferramentas que podem auxiliar estudantes a imaginar novas configurações espaciais e inspirá-los a explorar soluções adequadas às novas tecnologias e às mudanças da sociedade e do meio ambiente.

A programação contempla a curricularização da extensão, a experiência do IPHAN e a prática de canteiros em sítios históricos, o estado da arte das DCN, a saúde mental dos estudantes, a formação dos docentes, as alternativas para elevar a qualidade da formação dos arquitetos e urbanistas e visitas técnicas à Pequena África e a obras do Palácio Capanema e do Museu Nacional.

A ABEA convida toda a comunidade acadêmica a participar do XXII CONABEA, cujo tema é:  50 anos construindo a Educação Democrática em Arquitetura e Urbanismo.

O evento acontecerá entre os dias 30 de outubro e 1 de novembro de 2023 e será sediado no Paço Imperial, na cidade do Rio de Janeiro.